Como
viver depois de ultrapassar tantas vidas?
Têm
lágrimas rolando por aqui, elas caem, sem contagem, sem o mínimo de cautela
possível. Elas caem e caem sem parar.
Faz
dias.
Faz
muito tempo que eu ando angustiada e não consigo de jeito nenhum chorar. Sequer
uma maldita e salgada lágrima.
Acordo
como se as costas doessem tanto que eu mal sinto vontade de levantar. Vejo pela
janela o dia maravilhoso e me esforço, espero mais um tempo e acabo me rendendo.
É
como se tudo que eu já vivi ainda andasse comigo. A cada segundo, latejando, me
lembrando, de tudo, de todos, do toque, do soco, do choro, do jardim que nasceu
dentro de mim, até mesmo de quando queimaram tudo. E eu ainda sim acendi e
deixei queimar.
Acabo
não conseguindo esquecer e eu tento muito. É andar distraído em um momento bom
que qualquer pensamento ou lembrança ruim que eu ousar relacionar com alguém cotidiano
que minha cabeça explode. Meu estomago embrulha. Tudo revira. E a angustia vem.
Como
é pra você viver depois de ultrapassar vidas?
Depois
de magoar. De desapontar. De errar.
Como
você vive?
Eu
entendo claramente que erramos que estamos uma vida toda pra aprender a
evoluir, se é que evolução existe. Mas estamos em busca de menos erros, de mais
aceitação, de mais empatia.
Como
encarar e aceitar os erros quando eles ainda gritam?
Ecoam
como os gritos que eu não gritei. E eu aposto que vão continuar ecoando na
minha cabeça enquanto eu tento insistentemente tira-los daqui.
Esse
talvez seja o maldito castigo de sentir muito. E eu sinto muito, me desculpe.
Já
pensou que o seu bom dia pode ter mudado o dia de alguém? E que só de te ver
sorrir, alguém sorriu de volta? É isso que eu falo sobre carregar fardos de
vidas que ultrapassamos.
Nos
envolvemos o tempo todo, sem sequer notarmos isso. E é gostoso e lindo, desde
que seja saudável.
Bom,
talvez o segredo esteja em dar o seu melhor. Mesmo que o seu melhor naquele
momento seja o pior de alguém, foi o que você pode fazer. Podemos chamar isso de
erro? O melhor pra o pior de alguém?
Tente
dar o seu melhor.
Ser
sincero, sem ferir. Afinal, falar bom dia quando você não está tão bem não é
algo tão ruim assim? Entende? Não é se abster de dias ruins, é só, saber lidar
com eles enquanto se relaciona com outrem.
Talvez
seja desligar-se um pouco de cada pedacinho seu que esbarrou em alguém. É ouvir
aquela música que te lembrava aquela pessoa que foi embora, porque ela
simplesmente precisava ir, é ouvir a música e não sentir como se estivessem
esfaqueando seu peito umas quarenta e quatro vezes.
É
tornar o processo de caminhar, libertador, mesmo que pra fazer isso, tenha que
enfrentar momentos difíceis. Afinal, quando eu passo pela sua rua, lembro de
quando brincávamos de amarelinha e eu não conseguia pular o inferno, passávamos
tardes rindo, e foi bom. É o que eu preciso guardar pra mim hoje.
Como
é maravilhoso lembrar de você olhando pra mim e sorrindo, como se a nossa noite
nunca fosse acabar. Lembrar mesmo que superficialmente dos seus dedos entrarem
em contanto com as minhas costas e dai partirem acariciando toda a silhueta.
Meu
deus! E o carnaval de uns anos passados, a bateria passando o calor subindo, os
pés dançantes e mãos soltas ao ar. Dançávamos, eu e elas, como se aquele
momento fosse único, e foi. Observava cada gargalhada como se fossem as
últimas, e sentia sua energia, onde meu corpo estremeceu; e é como se aquele
tempo com as mulheres mais poderosas do meu mundo, não pudesse ser contado.
E
sim, é doloroso aceitar que pessoas queiram ir embora. Mas elas vão, e sei que
eu fui embora muitas vezes. Eu fui embora sem olhar pra traz. Deixei pessoas
falando sozinhas. Fechei a porta na cara de amigos em épocas conturbadas.
Eu
já fui pior e talvez não tenha pensado em ser melhor.
E
eu fico me perguntando nos momentos em que minhas costas pesam, em que o
barulho não acaba ou enquanto o silencio me enlouquece: como as pessoas vivem
depois de terem esbarrado por mim?
Eu
continuo seguindo em frente, mesmo com dias mais sombrios ou alguns chatos; há
momentos bons, tão bons que me fazem querer continuar vivendo e esbarrando em
outras vidas, outros mundos; Talvez seja isso, viver seja essa colisão louca
entre o início de tudo, em cada universo. Essa ânsia e coragem em voar e cair,
e levantar porque ainda temos forças o suficiente pra saber que erros não se
consertam sem muita observação e aprendizado.
E
hoje, mesmo com essas lágrimas que caem, e caem queimando, estou feliz e
disposta a esbarrar em infinitos mundos, e espero, que um dia, esses mundos
estejam dispostos a se esbarrarem comigo por aí.
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