quinta-feira, junho 21, 2018

Esbarrei em infinitos.



Como viver depois de ultrapassar tantas vidas?

Têm lágrimas rolando por aqui, elas caem, sem contagem, sem o mínimo de cautela possível. Elas caem e caem sem parar.


Faz dias.
Faz muito tempo que eu ando angustiada e não consigo de jeito nenhum chorar. Sequer uma maldita e salgada lágrima.

Acordo como se as costas doessem tanto que eu mal sinto vontade de levantar. Vejo pela janela o dia maravilhoso e me esforço, espero mais um tempo e acabo me rendendo.

É como se tudo que eu já vivi ainda andasse comigo. A cada segundo, latejando, me lembrando, de tudo, de todos, do toque, do soco, do choro, do jardim que nasceu dentro de mim, até mesmo de quando queimaram tudo. E eu ainda sim acendi e deixei queimar.

Acabo não conseguindo esquecer e eu tento muito. É andar distraído em um momento bom que qualquer pensamento ou lembrança ruim que eu ousar relacionar com alguém cotidiano que minha cabeça explode. Meu estomago embrulha. Tudo revira. E a angustia vem.

Como é pra você viver depois de ultrapassar vidas?
Depois de magoar. De desapontar. De errar.
Como você vive?

Eu entendo claramente que erramos que estamos uma vida toda pra aprender a evoluir, se é que evolução existe. Mas estamos em busca de menos erros, de mais aceitação, de mais empatia.
Como encarar e aceitar os erros quando eles ainda gritam?

Ecoam como os gritos que eu não gritei. E eu aposto que vão continuar ecoando na minha cabeça enquanto eu tento insistentemente tira-los daqui.

Esse talvez seja o maldito castigo de sentir muito. E eu sinto muito, me desculpe.

Já pensou que o seu bom dia pode ter mudado o dia de alguém? E que só de te ver sorrir, alguém sorriu de volta? É isso que eu falo sobre carregar fardos de vidas que ultrapassamos.

Nos envolvemos o tempo todo, sem sequer notarmos isso. E é gostoso e lindo, desde que seja saudável.

Bom, talvez o segredo esteja em dar o seu melhor. Mesmo que o seu melhor naquele momento seja o pior de alguém, foi o que você pode fazer. Podemos chamar isso de erro? O melhor pra o pior de alguém?

Tente dar o seu melhor.

Ser sincero, sem ferir. Afinal, falar bom dia quando você não está tão bem não é algo tão ruim assim? Entende? Não é se abster de dias ruins, é só, saber lidar com eles enquanto se relaciona com outrem.
Talvez seja desligar-se um pouco de cada pedacinho seu que esbarrou em alguém. É ouvir aquela música que te lembrava aquela pessoa que foi embora, porque ela simplesmente precisava ir, é ouvir a música e não sentir como se estivessem esfaqueando seu peito umas quarenta e quatro vezes.

É tornar o processo de caminhar, libertador, mesmo que pra fazer isso, tenha que enfrentar momentos difíceis. Afinal, quando eu passo pela sua rua, lembro de quando brincávamos de amarelinha e eu não conseguia pular o inferno, passávamos tardes rindo, e foi bom. É o que eu preciso guardar pra mim hoje.

Como é maravilhoso lembrar de você olhando pra mim e sorrindo, como se a nossa noite nunca fosse acabar. Lembrar mesmo que superficialmente dos seus dedos entrarem em contanto com as minhas costas e dai partirem acariciando toda a silhueta.

Meu deus! E o carnaval de uns anos passados, a bateria passando o calor subindo, os pés dançantes e mãos soltas ao ar. Dançávamos, eu e elas, como se aquele momento fosse único, e foi. Observava cada gargalhada como se fossem as últimas, e sentia sua energia, onde meu corpo estremeceu; e é como se aquele tempo com as mulheres mais poderosas do meu mundo, não pudesse ser contado.


E sim, é doloroso aceitar que pessoas queiram ir embora. Mas elas vão, e sei que eu fui embora muitas vezes. Eu fui embora sem olhar pra traz. Deixei pessoas falando sozinhas. Fechei a porta na cara de amigos em épocas conturbadas.  

Eu já fui pior e talvez não tenha pensado em ser melhor.

E eu fico me perguntando nos momentos em que minhas costas pesam, em que o barulho não acaba ou enquanto o silencio me enlouquece: como as pessoas vivem depois de terem esbarrado por mim?

Eu continuo seguindo em frente, mesmo com dias mais sombrios ou alguns chatos; há momentos bons, tão bons que me fazem querer continuar vivendo e esbarrando em outras vidas, outros mundos; Talvez seja isso, viver seja essa colisão louca entre o início de tudo, em cada universo. Essa ânsia e coragem em voar e cair, e levantar porque ainda temos forças o suficiente pra saber que erros não se consertam sem muita observação e aprendizado.

E hoje, mesmo com essas lágrimas que caem, e caem queimando, estou feliz e disposta a esbarrar em infinitos mundos, e espero, que um dia, esses mundos estejam dispostos a se esbarrarem comigo por aí.  

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