Eu
viajei longos dias, andei por altas horas, sol e chuva passaram por aqui e por
lá. Eu continuo viajando, todos os dias enquanto inspiro e expiro. Não consigo
entender quando a moça da padaria dizia que encontrou seu lar – Dona Maria acabou
de se mudar de cidade, esquecer algumas frustrações e recomeçar. Mas eu
continuo não entendendo, como funciona o esquema sentir-se parte de um só
lugar, é isso que me incomoda.
Primeiro
a perna esquerda, depois a direita, onde uns passos são rápidos e outros mais
preguiçosos; ando pensando – eu nunca me satisfaço, essa é a sensação de não
ter um único e exclusivo lar. Sinto-me como parte desse todo, compadecendo com
a natureza de todos os magníficos lugares.
O
lar é feito um estado de espírito, ou talvez da alma. Afinal, não é sobre isso?
Sobre uma insatisfação tão intensa que chega a tornar a alma num nômade. A
sensação de novas terras tocando os pés, das praias que nunca tem o mesmo
horizonte. De cada onda única que me faz flutuar. Já sentiram? A plenitude na
sombra da mangueira da casa da vovó, o vento fresco da cidade onde meus tios
moram.
O
lar é essa vida constante e inconstante. É a sensação de prazer que te faz
fechar os olhos e se sentir, finalmente em casa, onde sou eu mesmo. O mundo é
meu lar, a natureza, o por do sol, a Lua minguante, e eu faço parte desse todo.
Meu lar tem essa sensação maravilhosa de balançar os cabelos ao vento, de apreciar cada gotinha da chuva que desce as costas enquanto eu corro pra não perder o ônibus. Minha casa é como meus olhos sorriem ao te ver deitado e colado em mim. A euforia de dançar como se a noite nunca fosse acabar ou do abraço quente num dia um pouco desagradável.
E então todos os dias quando amanhece, posso perceber esse encaixe da vida com a minha essência, onde reconheço que sou meu próprio lar, dentro do que me excita e incita a ser melhor e finalmente sentir que estou vivo.
Dia
a dia, passo a passo.
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