quarta-feira, setembro 06, 2017

Tic tac



O tic tac do relógio me acorda todas as noites

Ora, todas as noites não, mas há algumas noites tenho tido péssimos sonos, sonhos, sabe? Até às minhas costas doem, se é o peso? Talvez um mau jeito...

Quando acordo pela manhã, um pouco exausta por uma noite mal dormida, encaro o teto branco com alguns raios de sol que insistem em passar pela cortina. Eu fico ali, deitada por mais uma ou duas horas recompondo.

O tic tac do relógio não para.

Uma hora.
Duas.

Fico me perguntando quanto tempo faz que eu vivo os mesmos dias, em dias diferentes – de acordo com o calendário. É feito um dejavú dos últimos meses, deveras assustador. Ando pelos mesmos lugares, bebo as mesmas bebidas, sinto falta dos mesmos sabores. Sinto as mesmas sensações e o curioso peso de uma bagagem imensa nos ombros.

Ao abrir o chuveiro as gotas caem bruscas, perpassando por todo o corpo, lavando a epiderme como quem expulsa de casa o próprio ser, o dono. Fecho meus olhos e sinto. Sinto cair gota por gota molhando meus cabelos, as rugas da testa e as bochechas rechonchudas. E leva dos olhos, o gosto salgado que desce devagar. A água passeia pelos ombros pesados e tensos e parece livra-los, por um só segundo dessa sensação que nem sei ao menos como senti-la, expurga do âmago a angústia, aliviando quente as minhas extremidades frias.

Visto-me e sigo os dias.

Com o tic tac do relógio que nunca ousa parar.

Parece me lembrar a cada minuto que tempo vem a passar, ligeiro feito maresia.

Eu continuo vivendo. Andando, passo a passo, lentos e cautelosos passos, por uma vida apressada que passa por esse coração espremido e doce. Dias quentes, frios e apáticos, tempestades que brotam de manhãs ensolaradas, e o quão pareciam ensolaradas, sentia o ardor de seus raios, sentia o ardor de seus abraços.

Um dia após o outro.

Como se eu realmente soubesse a poção mágica para acabar com o que me aflige. Mas ora, nem sei o que aflige. Então continuo caminhando, a procura do eco que nós mesmos geramos, dos gritos que emitiram minha voz. Das cicatrizes que permanecem e das pessoas que vão embora. Aos poucos cura-se. Aos poucos, com uma dose de cachaça e um aperto de mão.

As coisas não deveriam, mas são.

Planejadas? Talvez, beirando o blefe e frustração.

As coisas não deveriam ser, mas são assim. E elas seguem no tic tac desse relógio que não me deixa dormir e nunca para de girar.

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