O tic
tac do relógio me acorda todas as noites
Ora,
todas as noites não, mas há algumas noites tenho tido péssimos sonos, sonhos, sabe?
Até às minhas costas doem, se é o peso? Talvez um mau jeito...
Quando
acordo pela manhã, um pouco exausta por uma noite mal dormida, encaro o teto
branco com alguns raios de sol que insistem em passar pela cortina. Eu fico
ali, deitada por mais uma ou duas horas recompondo.
O tic
tac do relógio não para.
Uma
hora.
Duas.
Fico me
perguntando quanto tempo faz que eu vivo os mesmos dias, em dias diferentes –
de acordo com o calendário. É feito um dejavú dos últimos meses, deveras
assustador. Ando pelos mesmos lugares, bebo as mesmas bebidas, sinto falta dos
mesmos sabores. Sinto as
mesmas sensações e o curioso peso de uma bagagem imensa nos ombros.
Ao abrir
o chuveiro as gotas caem bruscas, perpassando por todo o corpo, lavando a
epiderme como quem expulsa de casa o próprio ser, o dono. Fecho meus olhos e
sinto. Sinto cair gota por gota molhando meus cabelos, as rugas da testa e as
bochechas rechonchudas. E leva dos olhos, o gosto salgado que desce devagar. A
água passeia pelos ombros pesados e tensos e parece livra-los, por um só
segundo dessa sensação que nem sei ao menos como senti-la, expurga do âmago a
angústia, aliviando quente as minhas extremidades frias.
Visto-me
e sigo os dias.
Com o
tic tac do relógio que nunca ousa parar.
Parece
me lembrar a cada minuto que tempo vem a passar, ligeiro feito maresia.
Eu
continuo vivendo. Andando, passo a passo, lentos e cautelosos passos, por uma
vida apressada que passa por esse coração espremido e doce. Dias quentes, frios
e apáticos, tempestades que brotam de manhãs ensolaradas, e o quão pareciam
ensolaradas, sentia o ardor de seus raios, sentia o ardor de seus abraços.
Um dia
após o outro.
Como se
eu realmente soubesse a poção mágica para acabar com o que me aflige. Mas ora,
nem sei o que aflige. Então continuo caminhando, a procura do eco que nós mesmos
geramos, dos gritos que emitiram minha voz. Das cicatrizes que permanecem e das
pessoas que vão embora. Aos poucos cura-se. Aos poucos, com uma dose de cachaça
e um aperto de mão.
As
coisas não deveriam, mas são.
Planejadas?
Talvez, beirando o blefe e frustração.
As
coisas não deveriam ser, mas são assim. E elas seguem no tic tac desse relógio
que não me deixa dormir e nunca para de girar.
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