quarta-feira, julho 01, 2015

Amontoado cinza

O sino da igreja mais próxima badalava informando às 10 da manhã. Jordana observava do carro, olhando os pássaros e sorrindo para qualquer brisa passageira.

Aquela brisa vinda do mar sempre a deixara confortável, em par e paz. Seu companheiro ainda dormia sereno...

Para sua surpresa o céu mesclou seu azul. E da mistura tornou tudo cinza. Num daqueles dias que nem sequer os melhores raios de Sol melhorariam as horas e cessariam a tristeza.

Eu realmente espero que esse tempo não se perdure por muitas horas... Pelo menos não se desenrolando nesta atmosfera.

Às vezes vinha a calhar um pensamento ruim acompanhado com o nó na garganta e os olhos apertadinhos evitando as benditas gotículas salgadas. Eu sei meu querido, o mundo parecia perfeito ao seu lado, mas inconscientemente eu sabia que não era, e não gostaria que fosse. Eu admiro nossos erros e adoro usufruir dos deliciosos acertos! Mas por quê?

Fizera-me pular de cabeça num abismo fantástico e surreal, odiaria vê-lo fugir de mim mesmo que fosse o “correto” a se fazer. Imploraria que não o fizesse, o quão egoísta seria?


As nuvens não tomavam seus lugares ao céu, naquela manhã, era um belo amontoado cinza. E não ofendendo os daltônicos, mas cinza esfria as melhores possibilidades, capaz de congelar os melhores arrepios pelo conflito de nossa epiderme.

Poderia enlouquecer uma vida toda por incertezas, sempre as tivera, e vivi sempre perdida, não perdida como estava no momento, e sim desnorteada no Universo Astral. Por que cogitar o inexistente? Projetar o fim para o que já foi encerrado? Encerrar o que nem sequer foi iniciado? Esse fora meu dilema. Seria eternamente meu pecado?! – Diga-me que não.

Fred passara três quartos do tempo citando o quanto eu deveria desencanar de preocupações alheias. Eu sei, eu sei! Jordana, Jordana, cabeça dura, cabeça de melão que não ouve ninguém. Por que eu sou tão cabeça de mamão? Teimosa que só, e amante por nós. Amarrei-me nele e o pavio queimou até explodir, como pudera aceitar uma mulher aos pedaços? Talvez porque o tivera dado apoio para finalizar suas cicatrizes... Nunca se sabe –Mas eu sei.

Acendi um cigarro e traguei como uma daquelas noites de insônia, que um maço é pouco, onde a ausência arranja espaço na sala e salta pela porta dos fundos. Deixa o eco dos passos e lamúrias;
A cada piscar a mente viajava dentre o mar, próximo e distante, onde só a brisa me fizera balançar. Teu passado nunca fora selado, por mais que nosso presente -seja- marcado (... Isso me incomodara. Tocara feito relógio de cuco em minha cabeça)


Levei a mão e esfreguei os olhos. Choramingar estava fora dos meus planos, e ora, quem era eu para falar sobre planos? Tive vários inacabados por medo do fracasso. Pena que meu plano atual era complementar. Complementar Fred de todas as formas que alguém o pudesse fazer – se é que já não o fora. Transbordaria em teu jardim, pintaria teu corpo e lavaria tua alma de qualquer incômodo que o fizesse desistir. Falei ao pé d’ouvido enquanto Fred ainda dormia:

- Ô anjo, acolhera meus pensamentos mais obscuros e sonhos bizarros. Acolhera-me num abraço e colocara-me em teu peito. Cada sussurrar de tua boca me desperta o desejo de fazer-te meu por tempos que não poderiam ser contados... Só de imaginar-te sorrindo... o gargalhar mais galanteador das galáxias. – E beijei-lhe a testa.

Seria eu capaz de florir-te os dias e remexer com as bruscas ondas enquanto velejamos?  Nosso guia de hoje em diante serão os raios solares e a brisa (...) que não nos falte atalhos, amassos  e muita vontade de te ver sorrir e fazer-te o meu melhor.

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